quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Narrativas de Pessoa

Depois do último módulo de formação sobre as terapias narrativas deparei-me com este poema de Fernando Pessoa, que parece ter-se vestido de um novo sentido para mim depois de tanto termos pensado (e falado) sobre possibilidades e realidade. Ao lê-lo, pareceu-me claro que se houve pessoa que conhecia o verdadeiro sentido destas palavras, foi Pessoa.

De quem é o olhar

Que espreita por meus olhos?

Quando penso que vejo,

Quem continua vendo

Enquanto estou pensando?

Por que caminhos seguem,

Não meus tristes passos,

Mas a realidade

De eu ter passos comigo?



Às vezes, na penumbra

Do meu quarto, quando eu

Para mim próprio mesmo

Em alma mal existo,

Toma um outro sentido

Em mim o Universo –

É uma nódoa esbatida

De eu ser consciente sobre

Minha ideia das coisas.



Se acenderem as velas

E não houver apenas

A vaga luz de fora –

Não sei que candeeiro

Acesso onde na rua –

Terei foscos desejos

De nunca haver mais nada

No Universo e na Vida

De que o obscuro momento

Que é a minha vida agora:



Um momento afluente

Dum rio sempre a ir

Esquecer-se de ser,

Espaço misterioso

Entre espaços desertos

Cujo sentido é nulo

E sem ser nada a nada



E assim a hora passa

Metafisicamente.

 

Post by: Xana

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