Depois do último módulo de formação sobre as terapias narrativas deparei-me com este poema de Fernando Pessoa, que parece ter-se vestido de um novo sentido para mim depois de tanto termos pensado (e falado) sobre possibilidades e realidade. Ao lê-lo, pareceu-me claro que se houve pessoa que conhecia o verdadeiro sentido destas palavras, foi Pessoa.
De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem,
Não meus tristes passos,
Mas a realidade
De eu ter passos comigo?
Às vezes, na penumbra
Do meu quarto, quando eu
Para mim próprio mesmo
Em alma mal existo,
Toma um outro sentido
Em mim o Universo –
É uma nódoa esbatida
De eu ser consciente sobre
Minha ideia das coisas.
Se acenderem as velas
E não houver apenas
A vaga luz de fora –
Não sei que candeeiro
Acesso onde na rua –
Terei foscos desejos
De nunca haver mais nada
No Universo e na Vida
De que o obscuro momento
Que é a minha vida agora:
Um momento afluente
Dum rio sempre a ir
Esquecer-se de ser,
Espaço misterioso
Entre espaços desertos
Cujo sentido é nulo
E sem ser nada a nada
E assim a hora passa
Metafisicamente.
Post by: Xana
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