Ler a publicação da
semana passada e o artigo de Froma Walsh sobre os membros da família
de quatro patas, para além de ter sido uma delícia, fez-me pensar
na minha própria experiência nesse campo, que hoje partilho aqui
convosco na esperança de exemplificar na prática o que foi escrito
a semana passada.
Tal como a autora da
referida publicação, os animais de estimação, no meu caso os
cães, desde cedo fizeram parte da minha vida. O primeiro cão que
tive chamava-se Paquito e tinha claramente como função proteger-nos
e à nossa casa de possíveis intrusos, a relação de afectividade
com ele era muito pouca. Quando este cão morreu, tendo eu recebido a
versão infantil do acontecimento, “ele fugiu...”, arranjamos o
Tim-Tim. Tal como o Paquito, o Tim-Tim era um típico “cão das
vacas” (como se diz por cá nos Açores) e a sua função era a de
nos proporcionar segurança na nossa própria casa. O terceiro cão
que tivemos, um cão traçado de caniche chamado Cajú, transformou o
nosso relacionamento com os cães, ele tornou-se claramente um
elemento da família com direito a ter a sua caminha dentro de casa,
a ter mimos, a ter hábitos que todos respeitávamos e até a viajar
connosco nas férias!! Posteriormente, tivemos ainda um
pastor-alemão, o Wisky, que veio substituir o Tim-tim na sua função
de proteção mas com quem já estabelecemos uma relação afectiva
muito maior.
Da minha infância
saliento, para além da companhia, a função protetora que muitas
vezes é depositada nos cães e quão importante é esta função
para o nosso bem-estar. Para além disso, e tal como é referido no
artigo de Walsh, a morte do Cajú representou, para mim, a primeira
perda de alguém significativo, com esse acontecimento aprendi a
chorar alguém querido, a ter de me lembrar que não era possível
estar a ouvir as patinhas dele a andar na tijoleira, pois ele já ali
não estava, fui incapaz de visitar ao local onde o enterraram,
juntamente com a sua cama e coberto na sua mantinha, tal como era
incapaz de ir aos cemitérios. Passado algum tempo, aprendi a aceitar
o que acontecera e a arranjar estratégias para ultrapassar essa dor.
Outra situação curiosa que o artigo também refere é o facto de me
lembrar do aniversário dos meus cães e de lhes oferecer um ossinho
ou um brinquedo, de igual forma no Natal, a título de brincadeira,
damos prendas em nome dos nossos cães!
A minha vida continuou e
mantive a convicção “Quando for grande quero ter cães!”. Assim
foi, já adulta, passado um mês de eu e o meu namorado estarmos a
viver juntos recebi a melhor prenda de Natal de sempre dos meus pais
e irmã, um labrador amarelo chamado Snickers. Tal como refere Walsh
no seu artigo, com o crescimento do Snickers aprendi a acompanhar as
diferentes fases do seu desenvolvimento, desde o tipo de alimentação
correta em cada idade, o cair dos dentes, os brinquedos, as regras,
as responsabilidades, os castigos, os deveres … O que hoje mais
recordo dessa época é o sentimento de felicidade imensa que sentia
quando chegava a casa, depois de ter um dia péssimo, e o via
claramente feliz, a abanar a cauda, dirigindo-se para mim.
Recentemente, adoptamos
uma cadelinha traçada de caniche e podengo, a Nina. Dei por mim com
ela ao colo e tentando orientar o Snickers a fazer ou não fazer
algo, pensando “Credo pareço mesmo uma mãe de 2 filhos”. Dizia
muitas vezes a familiares e amigos “Parecem mesmo crianças, isto é
um treino para ter filhos!”, mas sempre com algum receio que me
achassem maluca por comparar um cão com uma criança, embora várias
amigas confirmassem também sentir o mesmo.
Se a nossa relação com
os nossos animais de estimação serve para aprendermos coisas sobre
nós próprios, de igual modo, permite-nos conhecer melhor os outros,
por exemplo, quando observo o meu namorado a interagir e mesmo falar
com os nossos “patudos”, quando partilhamos as preocupações com
eles, as idas ao veterinário, penso automaticamente “Ele vai dar
um óptimo pai!”.
O artigo da Froma Walsh,
ao explicar que esta relação humano-animal, veio confirmar que a
minha experiência e os meus sentimentos (com certeza os de muitas
outras pessoas) são reais e normais, que ter animais de estimação
ajuda a preparar o nosso futuro, nos ensina e treina para diversas
coisas e permite adquirir ferramentas importantes para o nosso dia a
dia e para a relação com o outro. Para além disso, agora já posso
explicar cientificamente à minha mãe esta adoração por animais
quando ela me voltar a dizer “Mais um cão...assim nunca mais tenho
um neto!”. :)
C.T