segunda-feira, 22 de abril de 2013

A história da minha família e os seus membros de 4 patas


Ler a publicação da semana passada e o artigo de Froma Walsh sobre os membros da família de quatro patas, para além de ter sido uma delícia, fez-me pensar na minha própria experiência nesse campo, que hoje partilho aqui convosco na esperança de exemplificar na prática o que foi escrito a semana passada.

Tal como a autora da referida publicação, os animais de estimação, no meu caso os cães, desde cedo fizeram parte da minha vida. O primeiro cão que tive chamava-se Paquito e tinha claramente como função proteger-nos e à nossa casa de possíveis intrusos, a relação de afectividade com ele era muito pouca. Quando este cão morreu, tendo eu recebido a versão infantil do acontecimento, “ele fugiu...”, arranjamos o Tim-Tim. Tal como o Paquito, o Tim-Tim era um típico “cão das vacas” (como se diz por cá nos Açores) e a sua função era a de nos proporcionar segurança na nossa própria casa. O terceiro cão que tivemos, um cão traçado de caniche chamado Cajú, transformou o nosso relacionamento com os cães, ele tornou-se claramente um elemento da família com direito a ter a sua caminha dentro de casa, a ter mimos, a ter hábitos que todos respeitávamos e até a viajar connosco nas férias!! Posteriormente, tivemos ainda um pastor-alemão, o Wisky, que veio substituir o Tim-tim na sua função de proteção mas com quem já estabelecemos uma relação afectiva muito maior.

Da minha infância saliento, para além da companhia, a função protetora que muitas vezes é depositada nos cães e quão importante é esta função para o nosso bem-estar. Para além disso, e tal como é referido no artigo de Walsh, a morte do Cajú representou, para mim, a primeira perda de alguém significativo, com esse acontecimento aprendi a chorar alguém querido, a ter de me lembrar que não era possível estar a ouvir as patinhas dele a andar na tijoleira, pois ele já ali não estava, fui incapaz de visitar ao local onde o enterraram, juntamente com a sua cama e coberto na sua mantinha, tal como era incapaz de ir aos cemitérios. Passado algum tempo, aprendi a aceitar o que acontecera e a arranjar estratégias para ultrapassar essa dor. Outra situação curiosa que o artigo também refere é o facto de me lembrar do aniversário dos meus cães e de lhes oferecer um ossinho ou um brinquedo, de igual forma no Natal, a título de brincadeira, damos prendas em nome dos nossos cães!

A minha vida continuou e mantive a convicção “Quando for grande quero ter cães!”. Assim foi, já adulta, passado um mês de eu e o meu namorado estarmos a viver juntos recebi a melhor prenda de Natal de sempre dos meus pais e irmã, um labrador amarelo chamado Snickers. Tal como refere Walsh no seu artigo, com o crescimento do Snickers aprendi a acompanhar as diferentes fases do seu desenvolvimento, desde o tipo de alimentação correta em cada idade, o cair dos dentes, os brinquedos, as regras, as responsabilidades, os castigos, os deveres … O que hoje mais recordo dessa época é o sentimento de felicidade imensa que sentia quando chegava a casa, depois de ter um dia péssimo, e o via claramente feliz, a abanar a cauda, dirigindo-se para mim.
Recentemente, adoptamos uma cadelinha traçada de caniche e podengo, a Nina. Dei por mim com ela ao colo e tentando orientar o Snickers a fazer ou não fazer algo, pensando “Credo pareço mesmo uma mãe de 2 filhos”. Dizia muitas vezes a familiares e amigos “Parecem mesmo crianças, isto é um treino para ter filhos!”, mas sempre com algum receio que me achassem maluca por comparar um cão com uma criança, embora várias amigas confirmassem também sentir o mesmo.


Se a nossa relação com os nossos animais de estimação serve para aprendermos coisas sobre nós próprios, de igual modo, permite-nos conhecer melhor os outros, por exemplo, quando observo o meu namorado a interagir e mesmo falar com os nossos “patudos”, quando partilhamos as preocupações com eles, as idas ao veterinário, penso automaticamente “Ele vai dar um óptimo pai!”.

O artigo da Froma Walsh, ao explicar que esta relação humano-animal, veio confirmar que a minha experiência e os meus sentimentos (com certeza os de muitas outras pessoas) são reais e normais, que ter animais de estimação ajuda a preparar o nosso futuro, nos ensina e treina para diversas coisas e permite adquirir ferramentas importantes para o nosso dia a dia e para a relação com o outro. Para além disso, agora já posso explicar cientificamente à minha mãe esta adoração por animais quando ela me voltar a dizer “Mais um cão...assim nunca mais tenho um neto!”. :)

C.T

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